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domingo, 6 de novembro de 2011

Só resta chorar (que é um jeito exagerado de sorrir)




Pete Docter fez UP, não bastasse isso já havia feito também Monstros S.A.

Hoje, revendo trechos dessa animação enquanto eu almoçava, pensei sinceramente que essa obra é daquelas que são, antes de tudo, educativas.

Educativa porque nos ensina a ver, porque nos ensina a sentir. Toda a cuidadosa concepção de cada quadro, cada plano, cada parte da montagem - é tudo um grande aprendizado sobre o que é ser sensível.

Abrindo portas pra novos mundos, correndo freneticamente pelo direito de estabelecer laços com pessoas improváveis, esperneando como só as crianças de espírito sabem espernear contra as injustiças do mundo, Monstros S.A. sempre abre meus olhos para a Beleza (não à toa trata do sentimento que eu mais respeito e admiro, a Amizade).

Os olhos marejados de Sully, o humor que encobre a ternura de Mike, a percepção pura e criativa de mundo de Boo - não são personagens, apenas, são super-heróis, são salvadores do mundo.

Planos-detalhe que fazem questão de mostrar objetos minúsculos (um pedaço de porta, um desenho no papel amassado) em mãos monstruosas provando que, diante da delicadeza, só resta à brutalidade calar-se, sair de cena e deixar que a verdadeira beleza seja.

E o final... As mãos feridas de Mike, a porta praquele mundo inteiro e estranho que é Boo, a expectativa do reencontro, o extra campo que nos encanta com um "Gatinho!" que estávamos implorando para ouvir ainda mais um vez, nos cativa, nos mata para nos ressuscitar no sorriso de Sully, que já não é mais monstro, já não é mais indivíduo, é já e para sempre puro amor e felicidade.

Como é possível chorar tanto em um final feliz?


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Me leva junto Totoro



Meu Amigo Totoro é sobre a beleza. É sobre o pânico histérico que vem da possibilidade dessa beleza desaparecer diante dos nossos olhos.
Não é um épico; é um diário - onde, antes de qualquer coisa, o autor parece querer falar sobre como o tempo anda em círculos de conforto intermitentemente tomados de assalto pela melancolia.
Não é a fantasia que invade a animação de Hayao Miyazaki – somos nós (público, personagens) que invadimos a fantasia da mente mais intrigante e fascinante deste século. Daí que a imagem mais exata para a arte de Miyazaki seja o vôo: vôo de espírito, vôo de linguagem. Mei é, ela mesma, a própria Animação: a fluidez e vivacidade dos seus movimentos – como disse um amigo – jamais teriam a mesma espontaneidade no corpo de um ator; porque o que Miyazaki evidencia é um movimento que nem nossa retina é capaz de captar, apesar de ser notório que tal dança de membros ocorre na realidade.

Meu Amigo Totoro é o antídoto contra toda a vulgaridade, contra todo o cinismo e contra toda a maldade do mundo. Miyazaki quer falar, sempre, daqueles que não aprenderam ainda a ter vergonha de chorar, daqueles que choram gritando e voam sonhando enquanto árvores mágicas crescem a seus pés.
As duas irmãs protagonistas, na espera cruel que lhes é imposta, vão chutando com graça e curiosidade as pedras do seu cotidiano, e é neste hang-out infantil (e, geralmente, tão ignorado pelos grandes estúdios de animação) que está o interesse do movimento animado: o vento que põe tudo em movimento é Totoro, que é Imaginação, que é Criança, que é Animação, que é o Artista.
Repito: é desesperador voltar para este mundo em ruínas após tanto tempo na companhia do belo – é, no entanto, necessário; e, após Meu Amigo Totoro, até este nosso mundo se torna mais suportável.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Animar a Ação, eis a ANIMAÇÃO



Criar movimento é animação - nisso mora a genialidade das obras de Walt Disney e Pixar.
Enxerguem isso e vocês se aproximarão do coração selvagem dessa arte.
É "visual-storytelling" meus amigos!

domingo, 20 de junho de 2010

Notas de um coração apaixonado




Sempre penso que devia ser incrível aquela época do cinema em que as pessoas podiam assistir as obras-primas de Fellini, Hitchcock, Minelli, Visconti e Charles Chaplin no cinema.
Mas como é igualmente incrível podermos assistir à Toy Story 3 (e todas as animações da Pixar) na tela grande, em uma sala escura.


John Lasseter e seus amigos me fazem chorar como só o Chaplin consegue - que é como se abraçassem meu coração com tanto afeto que ele fica apertado.

Não é impressionante como Ratatouille, UP e Toy Story só possam ser encarados pelo viés das obras-primas que nos mostram que não há limites para uma linguagem (a não ser sua própria liberdade)?

Aliás, Dia & Noite, o curta que antecede Toy Story 3, é um desses momentos em que uma linguagem dá um passo adiante.

Me repugna que as salas de Belém insistam em desrespeitar essas grandes obras impedindo que o público da cidade assista à estas animações no formato 3D no qual foram pensadas. É falta de respeito e consequente falta de amor.

sábado, 19 de junho de 2010

That’s the way to say goodbye



AO INFINITO

A infância deve ser uma das coisas mais idealizadas pelas pessoas em geral e mais reverenciadas pelas artes em particular. Tão idealizada que de vez em quando me pego pensando se esse momento da nossa existência merece tantas reverências, tantas glórias, e a verdade, para mim incontornável, é que quando me encontro encarando uma obra, como esta última animação da Pixar, sinto nos meus ossos que um dos motivos de a arte ter sempre existido na humanidade é a tentativa de resgatar mundos e sensações que todos perdemos pelo caminho. Apontando possibilidades, colocando questões, constatando sentimentos, a arte segue numa reconstrução que é criação e que tem vida própria, mas que sempre ressoa no nosso coração (porque toda grande obra de arte é um coração em forma de linguagem).

E se a infância sempre parece, depois que crescemos, como sendo um mundo à parte de qualquer realidade concreta e lógica, penso que a animação (linguagem que precisa criar, nas questões mais práticas, novos mundos para existir) é a linguagem que mais sinceramente se aproxima e se assemelha à falta de limites características da mente infantil. Não é que o cinema ou a literatura sejam sempre fracassados em representar essa época, mas há algo de sobrenatural no pacto que inconscientemente fazemos quando começamos a assistir uma animação e que naturalmente nos leva para um outro nível de compreensão, para uma nova freqüência de entendimento e de sensibilidade.

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E ALÉM!

Quando eu tinha 6, talvez 7 anos, minha mãe me deu um cavalo de brinquedo. Na época eu não sabia (quem sabe daí é que vinha a força dessa relação), mas o motivo de eu amar tanto aquele cavalo era que sempre que eu brincava com ele eu era levado para outros tantos lugares, que ficavam todos dentro de mim mesmo. Em tantas viagens, tantas aventuras, eu não percebi que estava crescendo e que estava, aos poucos, deixando de viajar, deixando de transportar “os sins desses horizontes” da minha vida.

Eu daria tudo que tenho e um pouco mais para ver, uma última vez, as imagens que minha imaginação de criança (meu espírito ainda livre) criava nessas brincadeiras todas: e a minha eterna gratidão aos gênios da Pixar está em poder reencontrá-las em uma sala de cinema, pelo preço de um ingresso. A obra-prima Toy Story 3 começa com a única imersão que é permitida ao público, durante toda a trilogia, na imaginação de Andy, o garoto a quem fomos apresentados 15 anos atrás, quando esse estúdio começou seu caminho que tantos presentes nos deu nos últimos anos. E, eu sei, representar a imaginação de um criança não é fácil, e a perfeição desta representação (que passa da categoria de símbolo para a da coisa em si) é apenas um dos pontos que fazem desta animação a grande obra de arte que é.

Como Rastros de Ódio, Toy Story é um épico – esta será sempre sua proporção – e como os grandes épicos esta obra irá se debruçar sobre grandes temas: lealdade, saudade, finitude, amizade. E se as duas primeiras animações construíram (fantasticamente) o mundo compartilhado por crianças e brinquedos, evidenciando a grandeza dessa relação, esta terceira sequência trata com inevitável afeto do fim deste universo.

Andy está indo para a faculdade, seus brinquedos acumulam poeira e estão eternamente condenados ao amor incondicional por seu dono; nas palavras do já lendário John Lasseter, na visão de um brinquedo “quando você está quebrado, pode ser consertado; quando você está perdido, pode ser encontrado; quando você é roubado, pode ser recuperado. Mas não há como contornar o momento em que uma criança cresce”. Woody e Buzz Lightyear sabem disso e em sua jornada que vai da aceitação até a melancolia causada pelo aparente abandono somos testemunhas da mais pura e libertária inventividade imagético-narrativa. E por mais coletivo que este trabalho seja não vejo como não direcionar grande parte de minha emoção ao diretor Lee Unkrich, um inacreditável estreante, que sabe da dimensão do material com o qual trabalhou. São sequências como a barbárie das crianças da creche Sunnyside ao encontrar os brinquedos novos, o flashback que explica as origens de Lotso (o urso de pelúcia ditador), os vídeos caseiros que nos mostram o crescimento de Andy (e de todos nós), a união dos protagonistas no momento de sua eminente destruição, que confirmam, consagram e definem os artistas da Pixar como alguns dos grandes contadores de histórias de nosso tempo, em tudo o que isso implica: a criação perfeita de atmosferas (o terror, a melancolia, o humor e a felicidade), a organização sensível e exata das sequências de cenas, que só pode envolver a consciência do poder que uma elipse, um leit motiv, um plano subjetivo e um close-up podem ter e o amor irrefreável por uma linguagem. Lee Unkrich e sua equipe estão, através do perfeito domínio de sua técnica, se colocando ao lado dos verdadeiros gênios (o já citado John Ford, Hayao Miyazaki e Charles Chaplin me vêem à mente). Gênios porque mimetizam na tela a dor e a necessidade da separação entre a infância e a vida adulta, porque nos dão a verdadeira dimensão do ato de oferecer a mão a um amigo, porque nos explicam (com a simplicidade que só pode ser fruto de um trabalho árduo) que a saudade não passa de um desejo de estar sempre junto de alguém.

Assistir à Toy Story 3, à última vez que Andy brinca com seus amigos da vida toda, à seu olhar hesitante e assustado quando percebe que deve se separar de Woody, à ternura caótica do mundo de uma criança e de seus brinquedos é vislumbrar a despedida mais linda, mais libertadora e mais triste que a arte da animação já produziu.

É uma história de brinquedos, é uma história de humanos, é uma história dessa coisa maravilhosa que somos capazes de estabelecer entre nós chamada amizade.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O ESPÍRITO DE AVENTURA




Ouvi muitos e muitos elogios sobre os 10 primeiros minutos de UP, nova animação dos estúdios Pixar. Elogios que são mais do que merecidos: praticamente sem palavras Pete Docter (diretor e um dos roteiristas) institui na animação tudo aquilo que será essencial para que entendamos a narrativa – e que narrativa, diga-se de passagem. Acompanhamos um menino e uma menina e o nascimento de uma amizade entre ambos: o que os une? A aventura – ou pelo menos o desejo de se aventurar, o que para crianças tem uma íntima relação com experimentar o desconhecido, com enfrentar mistérios. Sem querer dar aulas de semiótica, mas há nesses primeiros 10 minutos um símbolo/signo/ícone (tanto faz, afinal nesse caso a imagem vale mais que mil palavras): o balão. Balão que é o início do amor entre Carl e Ellie, e que indica o começo de todas as aventuras que ambos estão por experimentar. Ellie tem um caderno onde coloca todas as aventuras que já viveu e todas as que está por viver – sendo a mais aguardada aquela para a qual convida Carl: viajar para o topo de uma cachoeira na América do Sul e lá passar toda a vida, e assim preencher as páginas em branco das “aventuras que ainda vou ter”.

Eles crescem, eles casam, eles não podem ter filhos e nesse processo é desenvolvida tanto a cumplicidade do casal quanto nos é dado todo o grau de importância que Ellie tem para Carl: nesses inesquecíveis 10 minutos Carl nem sequer fala – Ellie significa absolutamente tudo para ele: ela é sua voz, seu coração, sua maior aventura até aquele momento. E nesse cotidiano a “grande aventura” vai sendo adiada e esquecida até ser trazida à tona pela morte de Ellie; se torna incontrolável o desejo de Carl em seguir o plano original e levar sua esposa para o topo daquela montanha, ao lado da cachoeira, para que fiquem lá para sempre.


E seria nesse ponto que começa a aventura? O filme nos provará que não – desde o momento em que os majestosos balões eclodem do teto da casa e a lançam ao céu (símbolo máximo da falta de limites) UP se propõe, de alguma forma, a desconstrução de tudo que aprendemos e acreditamos nos seus minutos iniciais e se esse processo não se dá sempre de forma harmoniosa, ele é predominantemente prazeroso nos sentidos estéticos, narrativos e sentimentais.


A jornada pela qual Carl e seu acompanhante acidental passam é antes uma necessidade do que uma experiência em si – por mais que seja uma necessidade inconsciente para ambos. Tal necessidade é usada aqui, narrativamente, nas suas funções mais tradicionais: a jornada exterior é reflexo da interior, algo está mudando durante essa jornada e algo deve ser apreendido de tudo isso ao final. Mas que importância tem a convencionalidade com que as funções narrativas da jornada são tratadas quando elas são concebidas em imagens tão lindas e arrebatadoras? UP é arrebatadoramente cativante – quase uma surra no coração do espectador – e talvez esteja na infinita capacidade que certos momentos do filme têm de sensibilizar-nos que esteja a estranheza que, às vezes, acompanha as mudanças de foco na história, ou mesmo as mudanças de gênero: da agridoce história de amor à aventura frenética.


Acredito piamente, no entanto, que esse estranhamento seja vencido ao passo que nos entregamos à aventura tanto quanto o resistente Carl se entrega (apesar de ainda ressoar sutilmente uma espécie de atrito entre as histórias de Carl e Ellie e a do caçador obcecado por uma ave – é importante dizer, no entanto, que o personagem de Russel, e todas as suas implicações, é brilhantemente inserido como um fio condutor entre as duas narrativas). E esse estranhamento é definitivamente vencido quando percebemos que tudo que vimos até os últimos momentos do filme foi necessário para que a mensagem final nos fosse passada: e aqui cada objeto já trabalhado por Pete Docter e sua equipe ganham uma força e uma presença em cena tamanhos que, sozinhos, são capazes de produzir as mais sinceras lágrimas: o álbum de Ellie, as poltronas do casal, o pote de moedas, a medalha de tampinha de refrigerante, o balão – uma força que também é observável na animação anterior de Docter, afinal quem esquece daquele pedacinho de madeira que antes fazia parte da porta de Boo?


Tudo pelo o que passamos durante a projeção foi fundamental para que entendêssemos que é difícil dizer adeus para certas coisas e certos sentimentos, mas invariavelmente nós não temos escolha. E o instante em que Carl se dá conta disso será sempre lembrado por mim como um dos momentos mais bonitos que já experimentei em uma sala de cinema.


Afinal o que é uma aventura? Onde ela começa? Quando ela acaba? Qual o seu espírito? Talvez seja pela impossibilidade de palavras que Docter tenha optado pela imagem para se expressar e, assim como no final genial de Monstros S.A., ele nos presenteia com uma última cena que é, ao mesmo tempo, poética, significativa e (por que não?) misteriosa.

Obrigado pela aventura Docter! Agora que venham outras.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Wall-e


Hoje revi Wall-e, e posso dizer que, por mais que não seja cinema, é um dos meus filmes do ano.
Sempre admirei a Pixar, sempre. O seu uso da linguagem de animação, a inteligência com que tratava o público infantil, a força criativa.
Todos esses aspectos estão presentes em todas as suas produções, mas creio que ainda assim Wall-e represente uma grande evolução para o estúdio.
Até então não havia visto uma preocupação tão ostensiva com a estética do filme. Cada quadro de Wall-e parece ter sido obscessivamente pensando e repensado até ser enfim concebido. Pode ser meio tolo falar nesses termos de uma animação, tendo em vista que todos os pertencentes a essa categoria são fruto de um trabalho exaustivo de concepção. Mas em Wall-e creio que esse esforço vá além.
Monstros S.A. já era, para mim, uma obra-prima da Pixar. Sua força não estava apenas no conteúdo interessantíssimo, mas na forma como ele era apresentado e como nós éramos apresentados para o mundo ali retratado. Wall-e faz dessa "apresentação" de um novo mundo uma verdadeira imersão. Na riqueza de nuances, dos cenários aos personagens, da trilha sonora aos "enquadramentos" (não sei se é possível utilizar esse termo quando se trata de animação), somos tragados para o mundo de Wall-e, e todas as suas implicações. Muito mais do que "passar" uma pretensa "mensagem" de "salvem o planeta", o filme tem sua verdadeira beleza na FORMA que encontra de criar (e não apenas reinterpretar) o mundo interno de um robô solitário, e de fazê-lo tão brilhantemente que o entorno é contagiado. Por mais estranho que seja falar de sentimentos de espontaneidade em um filme onde tudo foi devidamente planejado, creio ser impossível escrever sobre este longa da Pixar sem levar em consideração sua pulsante e apaixonada defesa da importância da arte, da curiosidade, da reflexão e de como tudo isso nos torna humanos. Como Carlitos, Wall-e não sabe utilizar os objetos que não no sentido de criar o belo; como Carlitos, Wall-e é solitário (também) por olhar para as coisas e enxergar além de sua função prática.
Creio que pela primeira vez vi forma e conteúdo (no caso específico das produções da Pixar) ocuparem lugar de mesma importância. Essa integração harmoniosa é, talvez, o grande motivo do filme ter me arrebatado tão completamente.
Poesia de imagens.