sábado, 12 de junho de 2010

"Yes, she is my fighter".


“Menina de Ouro” foi o último filme que assisti com meu pai. E foi só revendo hoje, quase 5 anos depois, que percebi que este é um filme sobre um pai.

Os melhores pais não criam filhos, criam lutadores e depois precisam assistir, sofrendo de uma forma que eu não consigo imaginar, seus filhos lutando contra o mundo. Frankie só sabe treinar lutadores, mas não lhe é permitido, pela própria filha e por motivos que nunca vamos saber, ser um pai. Maggie só sabe lutar, mas precisa de alguém que a ensine a vencer.

Esse é todo o poder da relação que se constrói entre Frankie e Maggie e não se engane ao imaginar que toda a força emotiva desse amor paterno emana do roteiro (apesar de serem, sim, belas palavras). Clint Eastwood sabe do poder e do alcance da sua imagem: um ícone enraizado no imaginário americano (e mundial) do homem solitário, arredio e que nunca quer se envolver, mas sempre acaba se envolvendo. Se este homem já foi interpretado inúmeras vezes pelos mais diferentes atores é o que menos importa, porque nunca esse personagem possuiu uma influência tão devastadora na estética fílmica de um diretor do que a que podemos observar na filmografia de Eastwood.

O cavaleiro das trevas sabe que a escuridão é terrível, mas que se torna ainda mais insuportável quando vislumbramos um pouco de luz. Maggie é uma luz, uma possibilidade e a caminhada cênica/dramática de ambos os personagens das profundezas da escuridão em direção à claridade é direção de gênio.

No início do filme vemos uma luta de boxe. O lutador de Frankie leva um soco na cara e a câmera se aproxima o máximo possível daquele machucado: é que o filme é uma ferida aberta, que nunca vai se fechar. Maggie, de certa forma, é o que abre ainda mais a ferida de Frankie e o que mostra sua primeira possibilidade de escapar de tanta solidão. Eastwood não precisa de muito para, com as imagens e a música, nos localizar dentro daquilo que é essencial: são suas cenas dentro de casa, sempre no escuro, acedendo uma única luz (a luz da memória), do armário onde guarda as cartas que escreve para a filha e que sempre recebe de volta; é a concepção delicada e exata de cada cena em que Maggie e Frankie dividem o mesmo quadro e que nos mostra que quando se trata de “lar” não existem lugares, mas sim pessoas; é o timing perfeito de saber segurar o significado do nome irlandês de Maggie até o momento em que haverá o campo/contracampo perfeito para que ele seja revelado.

Clint Eastwood disse que queria passar a impressão, para o público, de que aquela era uma história que acontecia em outra época - e ele não se referia a um tempo histórico, mas a um tempo emocional. Um dos homens mais sensíveis do mundo consegue nos levar para esse tempo, para esse lugar, "no meio do nada entre cedros e carvalhos", onde pouco mais lhe resta do que a lembrança daquela luz breve que tornou as trevas ao seu redor intransponíveis.



É a solidão de um verdadeiro pai.

2 comentários:

Anônimo disse...

É realmente um filmaço... mas é também uma pena que eu não o sinta com a mesma intensidade. Sei lá, o Clint não é dos meus favoritos, tu sabes...
Estas curtindo a beça ein. Tá cada vez melhor nessa papo de escrever.
Só não esquece da proposta do outro blog, lesão.
Beijos.
Mariana

Mariana disse...

Nossa, esse blog tá bonito ein.