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sábado, 3 de novembro de 2012

BANG BANG PJ!



Esse ano conheci a PJ Harvey.

As referências eram ótimas (se a Rory gosta, deve ser bom, etc etc) e não havia nada que indicasse que eu não fosse gostar. Não se tratava de um risco - mas aí é que está, dentro do melhor que era esperado PJ Harvey foi ainda mais longe. Tão longe que achei necessário dizer alguma coisa.

Primeiro: criar expectativas a respeito dela é completamente inútil, talvez porque, como Patti Smith e Joni Mitchell, ela esteja completamente comprometida com algo que vai além de si mesma, além do público, além mesmo da música. Talvez o que pudesse ser chamado de profissão de fé.

A questão é que acho uma bobagem reclamar que em White Chalk ela deixou de ser a roqueira que era em Rid of Me e To Bring You My Love pra se tornar uma filha chata da Vashti Bunyan, ou que Stories From the City, Stories From The Sea é um álbum feito pra vender, ou ainda que Let England Shake é um disco histérico só porque ela pega pesado nos agudos: porque todas essas definições simplesmente não existem pra PJ Harvey; foram só coisas que, sendo ditas tantas vezes, passaram a parecer proposta do artista e não rótulo imposto pelo público.

Pra abraçar Polly Jean o mínimo que se pode fazer é dispor-se a uma liberdade tão absoluta quanto a dela. Não dá pra ouvir um disco pensando que ele vai continuar o último, essa mulher é pura ruptura e pesquisa - e aqui, nesse ponto, é que ela se revela como constante e excitante risco. Não é preferir "Angelene" a "Down by the Water", ou "Dry" a "The Soldiers", ou tentar descobrir qual o melhor disco dela, porque é completamente infrutífero comparar a PJ Harvey a ela mesma, no máximo se chegará a um diagnóstico de esquizofrenia ou de incongruência.

A importância de ouvir PJ Harvey está nessa possível reeducação de nossa interpretação tão pré-disposta a competição que aprendemos a cultivar, tão viciada na comparação, tão obcecada pelos prêmios e vitórias de uma obra de arte sobre a outra. Chega de colocar os artistas pra correr como cavalos em uma maratona. A obra de PJ Harvey é uma gargalhada na cara de quem insiste em troféus e estrelinhas, e um afago mais do que necessário para quem está disposto a assumir riscos (principalmente, o risco da falha).

Arte é um ato de coragem.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A tristeza azul




Foi relativamente tarde que conheci Joni Mitchell; e a conheci sem saber quem era, já que ouvi The last time I saw Richard pela primeira vez cantada pelo Renato Russo no acústico do Legião Urbana. Depois ouvi seu nome com mais atenção assistindo Simplesmente Amor, numa cena que até hoje significa muito pra mim, em que uma mulher se descobre traída e chora ouvindo Both Sides Now.
Mas foi só lá por 2006/2007 que resolvi correr atrás da Joni, e comecei como a maioria, penso eu, começa: ouvindo Blue, de 1971, álbum que também é conhecido por mim como “uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida”. Sem saber muito bem como, aquela mulher, sem nunca precisar de eletricidade, pegava um violão ou um piano e fazia miséria com o meu coração (daí eu nunca ter conseguido gostar tanto dos álbuns da década de 80 dela, onde começam a se meter umas guitarras e outras coisas com tomada).
Como sempre é bom começar pelo começo, imaginei que esse texto inacreditavelmente tardio sobre o meu amor pela música de Joni Mitchell devia tratar especialmente deste álbum de 71, pelo qual ela é tão reconhecida e que tanto determinou a relação levemente obsessiva que tenho com sua obra.
Blue é um disco inteiramente acústico, em que é mais do que óbvio que Joni não domina apenas as técnicas de canto que moldam perfeitamente sua voz desde sempre interessante, ela é também exímia pianista e toca violão como se tivesse nascido com palhetas no lugar dos dedos. Canadense, miserável durante sua juventude, mãe solteira aos 17 anos que entregou a filha para adoção e marginal por natureza, essa mulher me conquistou quando percebi que se me constrangia diante de tal exposição de sentimentos, de tal ousadia nos limites até os quais levava sua voz, de tal gravidade nas introduções de todas as músicas desse álbum, era porque eu não tinha a coragem que 40 anos atrás Joni teve de transformar tantos infortúnios e fragilidades em poesia musical.
Ouvir que a voz dela é um dos instrumentos que ela utiliza com tanta propriedade quanto os outros é um óbvio ululante para qualquer pessoa que já tenha ouvido River (minha música de Natal favorita); mais importante é perceber como o domínio vocal de Joni constrói junto com os instrumentos a base rítmica de suas canções. Nem ela corre atrás da melodia nem a melodia corre atrás dela: voz e violão, ou voz e piano trabalham juntos na concepção de uma cadência que sempre evita as rimas para encontrar harmonia menos na métrica e mais em uma expressão sensorial/sentimental. Como assim “expressão sensorial/sentimental”? É que para Joni Mitchell não existe separação entre o como ela canta e sobre o que ela canta; sendo uma letrista extremamente literária ela não pretende, de forma alguma, fazer poesia propriamente dita, mas também não ignora a importância que o conteúdo de suas letras têm para a forma como ela concebe seus arranjos. Daí que ela esteja tão mais interessada na criação de atmosferas (sensações e sentimentos) do que na exatidão de rimas ou na concepção de refrãos.
Blue é todo ele uma busca incessante pela sinceridade. Óbvio que essa sinceridade encontra-se com a melancolia que sempre permeia as músicas de Joni, mas é ao almejar um completo desnudamento de si que ela encontra motivação para cantar e tocar como se não tivesse nada a esconder: são totalmente audíveis os barulhos que seus dedos fazem quando passam de uma corda a outra do violão e quando o verso já acabou mas a voz insiste em alguma palavra então o dedo força ainda mais o piano que já deveria ter passado para outra nota. É o direito que a tristeza tem de abrir mão do “bom gosto” em benefício do desabafo. Um desabafo que poderia ser tomado por pura musiquinha de fazer chorar mocinha, não fosse existir introduções ao piano de músicas como The last time I saw Richard, solos de violão como os de Little Green e quebras rítmicas/vocais como as de A Case of You (a excelência das suas composições, me parece, já foi largamente reconhecida, e não penso existir alguém que conheça seu trabalho e duvide da qualidade de suas letras).
Se Joni Mitchell exerceu alguma influência? Pegue aí Jeff Buckley, Aimee Mann e Leonard Cohen, ouça-os com atenção, depois ponha pra tocar qualquer álbum de Joni e a resposta será imediata. Se Joni Mitchell foi um gênio? Ouça o violão penetrante de All I Want, se dê conta de um verso como “He went to California hearing that everything is warmer there, so you write him a letter and say ‘her eyes are blue’, he sends you a poem and she is lost to you, a little Green, have a happy ending” e seja sincero consigo mesmo.
O desconforto inicial que qualquer um pode experimentar ao ouvir pela primeira vez Blue será superado por aqueles que se deram conta de que este álbum não poderia se dar de outra forma. Como ela mesma disse, quando gravou esse disco ela “quis mostrar ao mundo que não poderia fingir ser forte. Ou feliz”. A tristeza, como a impaciência, tem seus direitos – e a tristeza de Joni Mitchell é tão respeitada por ela mesma que ganhou a representação mais perfeita que este sentimento, eterno carrasco dos homens, poderia ter.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O que não se explica


Como eu não entendo NADA de música vou explicar minha relação com o trabalho do My Bloody Valentine e do Mazzy Star da forma que sempre me foi mais próxima: explícita e sentimental.
As baterias são a chuva constante e grossa batendo contra o asfalto endurecido pelo sol do passado.
Os baixos são o vento que se intromete pelas minhas janelas, um som atrás da minha percepção.
As guitarras são a harmonia sinuosa entre chuva e vento que me vara o coração.
Os vocais são a alma da tempestade que é, obviamente, a minha própria (tempestade epiritual, espírito tempestuoso).

When you sleep é o sonho que tenho; Halah é o sonho que gostaria de ter tido.


sábado, 25 de setembro de 2010

One look in your eyes, and I won't have to fall




Minha música do ano é Back to Manhattan, do cd que a Norah Jones lançou em 2009 (The Fall).

Alguma coisa nela traz até mim uma atmosfera que só os melhores trabalhos de Joni Mitchell me proporcionaram (e, acreditem, isso quer dizer muita coisa).

Uma mulher, um homem, a ponte do Brooklin entre os dois - é preciso partir e, apesar de não saber como, ela sabe que deve fazer isso imediatamente.

Eu sei, isso é a letra - mas aquele piano, aquela bateria, aquela voz que parece um barco deslizando na correnteza melódica dessa canção, tudo isso me dá a trágica proporção deste fim de um mundo.

No final, a música fica suspensa (como uma ponte), ecoando em mim e em toda a sensação de despedida que ela me provocou.

Sei tão pouco de música - Norah Jones me fez sentir tão próximo à ela.

http://www.youtube.com/watch?v=w8b5uMN1bAQ